terça-feira, agosto 30, 2005

"DESCOBRI-VOS!"

Ele não estava perdido, o caminho era curto...a certeza era só mais um passo! Numa manhã de intensa neblina matinal em que o orvalho das forragens trás à memória a ténue imagem da espuma do mar de uma qualquer enseada, vai Júlio de mão dada com sua mãe à beira da estrada. Enquanto lhe afaga a cabeça, diz-lhe para enfiar na mesma o seu pequeno gorro de lã preta. A viagem decorria sem sobressalto, ao ritmo do trautear monocórdico da voz masculina de seu pai e do ranger sistemático do aro já empenado no guarda lamas da velha pasteleira. O trautear cessou. O semblante de ambos os progenitores ficou num ápice carregado. Um tom soturno instalara-se. Júlio já não era um miúdo - pelo menos julgava-se assim -, tinha a certeza que era só mais um passo e as lágrimas brotariam que nem riachos cristalinos alimentados por chuvas de consoada... Sua mãe não se conteve. Júlio não gostava daquelas árvores esguias nem do seu cheiro, ele sabia que ao seu aproximar sua mãe choraria. Desta feita ao segundo cipreste o pranto de sua mãe era enorme. Não era comum. É uma data especial!- pensara. Mas não se recordava ao certo. Quase simultaneamente sua mão desprendera-se de sua mãe dando lugar ao estancar da marcha e a um forte abraço entre os dois. Porque choras? Não gosto de ti assim! – disse Júlio. Sua mãe sorriu, ainda que envolta em lágrimas. Volvidos à marcha, só pararam novamente em frente ao imaculado mármore que continha uma foto em tons sépia de alguérm que o rapaz não conhecera e umas quantas palavras em seu nome. Sua mãe tirara-lhe já o pequeno gorro de lã preto. – Vai olhar pela bicicleta! - disse seu pai friamente. – Põe o gorro à saída! – retorquiu a mãe. Júlio não tinha por hábito questionar ordens, mas ultimamente sentia-se imbuído de um espírito que era misto de curiosidade e descoberta. Chegado ao portão preto de ferro, ligeiramente oxidado, reparou de rompante na incrição em cantaria da coluna direita da entrada do cemitério. “DESCOBRI-VOS!” À memória ocorreram-lhe logo os verbos, seus tempos e algumas conjugações, que aprendera até esta última Primavera. A neblina deu lugar à ténue mas pranzenteira luz de meia estação. O imperativo era óbvio, tal como o verbo descobrir, pensara instataneamente. Vós, era a segunda pessoa do plural, aí lembrou-se do truque que ao plural equivale sempre um singular. “Descobrir-tu!” Havia algo a descobrir, mas o quê? Instintivamente procurou pistas. Havia uma data. Era demasiado óbvio. Talvez...descobrir a mim?- pensou. Isto não fazia sentido na sua cabeça. Ele não estava perdido e o caminho era curto, portanto a certeza era só mais um passo! Não hesitou, voltou a entrar, agora com o pequeno gorro de lã preto na cabeça e partiu em busca de seu nome ou sua foto. Os pardais praticavam já o matinal bailado, com seu gracioso esvoaçar. A enseada mudara-se agora para o céu. E Júlio procurava. Encontrou médicos filantropos, cuja população os méritos agradecia; reparou em grandes maestros de carreira; viu abastados empresaários em magníficos mausoléus, outros homenageados como beneméritos em causas sociais; encontrou também bravos militares que sua pátria muito honraram e por ela pereceram; viu também sepulcros em que a campa não existia, a homenagem era feita pela cor argilosa da terra que se confundia com ressequidas pétalas, mas de colorido garrido. Ele não estava perdido, o caminho era agora ainda mais curto, tal fazia da certeza só mais um passo. Essa era sua convicção e avançou determinado. A verdade é que a busca fôra infrutífera, não se encontrara. Sentia-se enganado. A enseada celestial dera lugar ao cinzento cerrado dos enormes e agourentos farrapos de algodão sujo. – Vai chover! - pensou para consigo mesmo. O melhor seria ajeitar o pequeno gorro de lã preto e voltar para junto de seus pais. Foi o que fez sem hesitar. Ele estava perdido, o caminho fora longo e a incerteza invadira-o a cada passo!...
*
(caro leitor, como de resto é notório, o conto encontra-se imcompleto, a intenção é que o caríssimo/a encontre um final e uma moral para ele; pode fazê-lo através de pequenas menções, escrever o próprio final, filosofar, divagar, etc...não se impõe qualquer critério; de resto, dentro em breve publicarei o meu final que já se encontra escrito, mas que não publico já pois poderia influenciara sua/vossa escrita.)
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Atenciosamente sem medo

11 comentários:

augustoM disse...

Caro amigo, antes de mais quero agradecer a visita ao meu blog.
Quanto ao seu texto, que acho óptimo, ficaram realmente em aberto diversos desfechos. Eu escolho a hipótese de o Júlio estar morto, e os pais irem visitar a sua campa, no aniversário da sua morte.
Um abraço.Augusto

Indivíduo disse...

Aqui vai a minha descortinação…

Júlio é um conceituado médico psiquiatra das terras do norte daquela Terra Mítica, especializado em sexualidade. Um dia ao tentar resolver o problema de impotência do intocável e magnânime rei da Terra Mítica Mestre Valentim, descobre que este era obrigado por sua mãe a roubar batatas das barracas dos vizinhos que viviam no mesmo acampamento para inúteis da sociedade. Acontecimento esse que fez de Valentim uma criança e mais tarde um adulto incapaz de gerir o quer que fosse e tornou-o desprovido de qualquer seriedade.

É nessa altura que entra de rompante na sala e manifestando sinais de pânico, o Fernando, conhecido por ser uma famosa marioneta das terras do norte…

Fernando: Temos que fugir! vem aí o Incrível Rui!

Júlio: Calma Fernando, o Valentim está num sono profundo … e quem é esse incrível Rui?

Fernando: O Rui! O incrível Rui! O incorruptível! ele vem ai! Vem tão rápido e tenebroso como se de um Rio se tratasse….e quer roubar o meu poleiro…

Júlio: Calma Fernando, com esse nervosismo todo ainda ficas careca e depois tens que usar um capachinho!

Fernando: Tem razão Professor Júlio, mas não consigo estar calmo….

É nessa altura Valentim acorda do seu sono de algas azuis…

Mestre Valentim: Fernando, seu pulha! Que fazes aqui? Não sabes que não pertences a minha seita? Vai lá ter com os teus amigos da rosa desflorada que fico com os meus da laranja bolorenta! Ide! Ide!

Fernando: Mestre Valentim, vim avisa-lo, vim avisa-lo da desgraça que nos espera! Ele vem aí!

Mestre Valentim: O quê? Minha besta ousas dizer que existe alguém superior a mim? Quantos são? Eu não tenho medo de ninguém!

Fernando: É ele! O incrível o incorruptível! O Rui! E ele quer o meu poleiro…

Mestre Valentim: E o que me interessa a mim o teu poleiro?

Fernando: Mestre, o pior nem é isso… o pior é que ele traz consigo um duende assassino de corruptos…um tal de Marques, e parece que é um duende mágico…e que vai tentar destrui-lo com os sue poderes de duende…

Mestre Valentim: Da-se! Carago! Já ouvi falar desse duende, dizem que a sua mordedura custa a sarar, mas eu não tenho medo dele, ele que venha!

Fernando: Mas Mestre… e se ele nos vence? Não imagino a minha vida sem corrupção…
Já não bastava o meu discípulo Cardoso se ter voltado contra mim e agora ainda vem esse Rui para me destruir, Mestre ajude-me….

Mestre Valentim: Não te posso ajudar! Não és da minha seita! Mas podes sempre telefonar ao teu padrinho, o Pinto. Ele que coordena aquele negocio de gladiadores, com certeza que te poderá ajudar!

Fernando: Nãoooooo! Nãoooo! Antes a morte! Por favor Mestre, não conte nada ao Padrinho…se ele sabe disto mata-me…eu devia ter previsto a vinda do incrível Rui…

Mestre Valentim: Muito bem…Júlio! Não devias ter ouvido esta conversa, bem sei que tentas-te fingir que vias um filme erótico enquanto nós falávamos, mas não vale a pena mentires, acompanha-nos….e tu meu panasca Fernando, segue-me!

Fernando: Onde vamos Mestre???

Mestre Valentim: Sua Besta, nem para ajudares serves, qualquer dia revelo a toda a gente essa enorme careca que te ocupa a mona… Bem, mas vamos ao que interessa, e isto é uma situação de emergência, acho que devemos pedir ajuda aos Jedis do Sul, e neste caso ninguém melhor para destruir o incrível Rui que O terrível Armando!

Fernando: O terrível Armando? O Armando da Vara assassina ???

Mestre Valentim: Sim…conheces alguém melhor? Alguém mais destemido e ao mesmo tempo tão corrupto?

Fernando: Tem razão Mestre, alias como sempre…vou telefonar ao Armando!

5 minutos depois Armando chega a sala oval que era o consultório de Júlio.

Terrível Armando: Cheguei! Onde se esconde essa bichona do incrível Rui?

Mestre Valentim: Muito bem Terrível Armando, ainda bem que chegaste! Fernando, já te ajudei o bastante, como não sou da tua seita, está no ir…tenho que ir ao supermercado comprar ovos se não a patroa mata-me….

Terrível Armando, Fernando e Júlio despedem-se com um beijo na testa do Mestre Valentim…

Terrível Armando: Muito bem, o plano é o seguinte: Quando soube da vinda do terrível Rui, decidi telefonar ao nosso amigo Diabo, e decidi cobrar um favorzinho que ele me devia…

Fernando: O diabo deve-te um favor Terrível Armando?

Terrível Armando: Sim, ele tinhas umas dívidas ao fisco e eu resolvi o assunto. Bem, continuando, decidi pedir ao diabo para ressuscitar o fundador da nossa seita, o Poderoso Marinho, para que ele nos ajude no confronto com o terrível Rui e os duendes mágicos.
O plano é ir ter com O Poderoso Marinho ao cemitério dos elefantes e bestas. Tenho 3 pasteleiras a porta para que sejamos discretos e ninguém nos siga. Fernando, Júlio, vamos embora!

No caminho para o cemitério dos elefantes e bestas, Júlio teve uma lembranças da sua infância infeliz, lembrava-lhe os velhos tempos e sentiu naquele momento que olhava para o Terrível Armando como um pai, e para o Fernando como uma mãe….

Chegados a campa de O Poderoso Marinho , os olhos de Fernando não resistiram e começaram num pranto….

Terrível Armando: Júlio meu merdas, basa daqui, não és digno de observar o regresso de O Poderoso Marinho! Olha, vai-te masturbar para o pé da bicicleta!

Fernando: Olha Júlio, espera! Leva esta Playboy preta e trata-a como se fosse lã!


“Chegado ao portão preto de ferro, ligeiramente oxidado, reparou de rompante na incrição em cantaria da coluna direita da entrada do cemitério. “DESCUBRI-VOS!” À memória ocorreram-lhe logo os verbos, seus tempos e algumas conjugações, que aprendera até esta última Primavera. A neblina deu lugar à ténue mas pranzenteira luz de meia estação. O imperativo era óbvio, tal como o verbo descobrir, pensara instataneamente. Vós, era a segunda pessoa do plural, aí lembrou-se do truque que ao plural equivale sempre um singular. “Descobrir-tu!” Havia algo a descobrir, mas o quê? Instintivamente procurou pistas. Havia uma data. Era demasiado óbvio. Talvez...descobrir a mim?- pensou. Isto não fazia sentido na sua cabeça. Ele não estava perdido e o caminho era curto, portanto a certeza era só mais um passo!”

Decidiu prosseguir com a investigação, é então que se depara com um ser imponente e grandioso, O Intocável Aníbal! Conhecido pelo seu rigor de contas em toda a Terra Mítica.

Intocável Aníbal: Júlio! Estas metido nesta tramóia? Não acredito… alias não queria acreditar…

Júlio: Não Intocável Aníbal, juro que não! Fui vitima de uma cabala, mas eu sei os planos deles, eu colaboro, mas por favor não faça uma reforma do serviço nacional de saúde!

O intocável Aníbal agarrou na mão do pequeno Júlio e disse: - Tens salvação! Vinde comigo ver o mundo que prometo aos habitantes da Terra Mítica!

“Encontrou médicos filantropos, cuja população os méritos agradecia; reparou em grandes maestros de carreira; viu abastados empresaários em magníficos mausoléus, outros homenageados como beneméritos em causas sociais; encontrou também bravos militares que sua pátria muito honraram e por ela pereceram; viu também sepulcros em que a campa não existia, a homenagem era feita pela cor argilosa da terra que se confundia com ressequidas pétalas, mas de colorido garrido. Ele não estava perdido, o caminho era agora ainda mais curto, tal fazia da certeza só mais um passo. Essa era sua convicção e avançou determinado. “

A verdade é que Intocável Aníbal decidira fazer uma reforma do serviço Nacional de Saude.

“Sentia-se enganado. A enseada celestial dera lugar ao cinzento cerrado dos enormes e agourentos farrapos de algodão sujo. – Vai chover! - pensou para consigo mesmo”

O melhor seria ajeitar no bolso a pequena PlayBoy preta e voltar para perto dos seus progenitores daquele dia.

Estava confuso, foi nesse momento que decidiu começar um blog, um sítio em que realmente fosse ele a personagem principal, um sítio em que ele disse-se: -Hoje comi um iogurte! E toda gente aplaudisse de gladio e prazer!
Assim fez, mais tarde deposi de se livrar de toda aquela situação fez o blog, o Blog tornou-se em tudo o que ele imaginou. Passou a tirar muito prazer do seu blog embora nunca lhe dispensa-se um momento que fosse da vida útil e saborosa…

sem medo disse...

Gostei bastante de todas as opiniões até agora expostas, mas não posso deixar de destacar pela qualidade humorística a de gentleman, um verdadeiro restyling de conteúdo, de forma e personagens!

Viva o humor, viva a nossa política e sociedade, que de todos os aspectos negativos e podres, dela consegue brotar uma magnífica e secular arte: a arte circense;

e parabéns ao veículo que trouxe até nós essa faceta, a escrita, perspicácia e espírito crítico de gentleman;

Abraço e continuem

proteinita disse...

Imagem nova! Estou a ver que este grande blog está em clara expansão.
Quando puder, também eu darei o meu final à estória.

Até lá, um excelente dia.

Anónimo disse...

Parabéns ao Sr. Sem Medo, que criou aki um blog excelente, e do qual espero ler muito mais num futuro próximo.
Ora, visto que eu não tenho jeito nenhum para línguas, vou fazer uma análise do ponto de vista informático.

O problema é que o processo F (filho, com id = 2) separou-se do processo P (pais, com id = 0).
Isto só pode ser resultado de má programação. Devia ter sido criada uma thread, incorporando os dois processos, onde poderiam partilhar alegremente o processador e todos os recursos disponíveis, sem medo de perderem o contacto.
Ao invés, o Sistema Operativo julga que são processos distintos, e portanto separou-os na memória. O processo F está completamente separado do processo P, não tendo acesso à sua zona de memória.
O que vai acontecer é que o processo F vai consumir o processador desnecessáriamente, tentando encontrar o código do processo P, algo que nunca irá suceder.
O único remédio é re-iniciar o PC, corrigir a programação e começar de novo.
Diga-se de passagem que se fosse num Intel, o CPU estaria neste momento a fritar ovos com bacon.

Provavelmente não acham piada nenhuma, mas perfiro inventar sobre algo familiar do que fazer figura de urso num terreno que desconheço ;P

Sem medo, parabéns, e continua a escrever! ^_^

proteinita disse...

Obrigada crazybomber pela bela dose de riso que me proporcionou, sem bem que a versão do amigo gentleman (como era de esperar) também está hilariante.

Já agora, um obrigado ao grande sem medo por permitir que se revele tanto talento...

sem medo disse...

Dsde já agradeço a todos quantos se disponibilizaram a comentar e a reescrever o conto como a sua imaginação ditou, afinal era esse o objectivo, respeitar a ordem e desafiar o caos!

Vou agora publicar o meu final;

Abraço e beijinhos

Homem da faina disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Homem da faina disse...

E eis que homem da faina chega atrasado para participar num post 5 estrelas de Sem medo...
É o que dá não aparecer na net durante uns dias. Perder oportunidades como se perdem fôlegos ou batimentos cardíacos, the story of my life.
Gonçalo,não sei que dizer sem ser que está brutal. A sério, grande grande post. E as participações estiveram muito ao nível mesmo.
Crazybomber ( Madeira seu maluco, tu nos blogs!!! eheh ) não imaginas o que me ri a ler a tua dissertação sobre os problemas do Processo F com os Processos P.
Gentleman.. se não tivesses sido tu miúdo é que ficaria espantado.:)
Falei destes dois porque os conheço pessoalmente, mas todas as outras participações estão deveras brilhantes.
Realmente é verdade. Uma pessoa genial traz a genialidade dos outros ao de cima. Keep up the good work jovem sem medo. ;)

PS: Não vos vou maçar com uma qualquer história triste pejada de factualidades e descrições (malograda formação jornalística que me "assassinou" a capacidade discursiva literária), não me sinto neste momento à altura das pérolas que tive o prazer de ler. Para além do mais o post seguinte colocou já o ponto final. Não quis deixar passar, no entanto, a oportunidade (visto que estourei a anterior) de felicitar tanto o autor como os restantes participantes.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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