terça-feira, agosto 23, 2005

Por ouvir falar em incêndios florestais....

Imagem retirada de:
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Ouço dizer com alguma regularidade determinada comunicação social que Portugal está a arder! Por outro lado em conversas informais comenta o cidadão comum: “O que falta ainda arder?” ou “Não ardeu já todo o país?”.
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Apesar de o nosso território ser de dimensões reduzidas, existe muita área florestal que ainda não ardeu e que eu ousaria dizer que não irá arder. A verdade é que todos os anos as áreas afectadas raramente mudam, do meu prisma penso que tal como eu, o atento cidadão retirará daqui algumas ilações...
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Primeiro gostaria de dar um exemplo concreto de uma área florestal de média dimensão que bem conheço no Alentejo Central; esta serra é um vasto eucaliptal quase na sua totalidade (uma espécie considerada altamente combustível), este tipo de monocultura florestal e as características da árvore em questão têm sido nefastas para o terreno (principalmente numa região em que os recursos hídricos escasseiam), quase todas as fontes e charcos secaram (não sei se irreversivelmente), o solo tornou-se arenoso, sendo que as características e qualidades do mesmo se degradaram pois é notória a falta de nutrientes e húmus, na verdade até a vegetação rasteira característica de solos pobres tem dificuldade em singrar naquele local, por seu turno para quem já visitou o local sabe que apresenta um microclima específico que é caracterizado por apresentar uma temperatura ainda mais elevada que o normal (atingindo com facilidade temperaturas acima de 40ºC) e uma menor humidade relativa;

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Apesar de nem sempre ter sido assim, a limpeza do terreno tem sido descurada, os corta-fogos anteriormente amplos, lavrados e limpos de entulho, apresentam agora visível abandono do seu cuidado; não posso determinar quantos vigias há de momento, mas são decerto menos que há uma década atrás, tal como as pessoas que por aqueles locais habitavam; digam-me lá, se isto não é um barril de pólvora então o que é? A diferença crucial é que esta área não arde tão somente porque a empresa que arrenda e explora tantos hectares, tem amplas vantagens económicas em explorar e retirar anualmente largas toneladas de madeira para a indústria da celulose, pelo que se previne, apesar de ultimamente de forma mais precária continua a ter os seus meios próprios e autónomos, incluindo aéreos, de resto é uma empresa bem cotada na bolsa e como tal não está interessada em polémicas mediáticas sobre a gestão dos seus recursos.

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Por outro lado, penso que o grau de insanidade mental elevada de parte da população portuguesa ainda não atingiu severamente o povo alentejano, que, quer pela sua tradicional pacatez ou quiçá por apresentar uma elevada taxa de suicídios – segundo a ciência psicológica ter tendências suicidas é sinónimo de equilíbrio mental – não desata a inventar novos meios de ignição, tal situação leva-me a acreditar que teremos também que travar um fenómeno social de falta de civismo e a onda de mente-captos que arruina a nossa cotação internacional de povo civilizado e de agradável e natural destino turístico.

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Em boa verdade vos digo, que Portugal arde por excelência através de mão criminosa, seja por pessoas com patologias do foro psicológico, seja por bombeiros desempregados ou frustrados, seja por empresas que pretendem adquirir madeira a baixos preços, seja por proprietários que anseiam por accionar seguros, seja por empresas de aluguer de aeronaves, sejam autarquias ou empresas de construção civil que pretendem desbloquear terreno e burocracia para a construção, seja pela concorrência da indústria de celulose....

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Congratulo-me no entanto, com o facto de possuirmos neste momento os melhores técnicos incendiários da Europa, com a melhor formação técnica e teórica, com larga experiência no terreno, altamente motivados, com pós-graduações em assuntos jurídicos e judiciais, mestrados em subornos e tráfico de influências, doutoramentos em confundir os serviços que actuam e previnem e cátedra em condições meteorológicas e geográficas desfavoráveis ao rápido e eficaz combate ao incêndio.

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Um bem-haja a vós que lêdes estas palavras.

3 comentários:

Homem da faina disse...

muito, muito bom este post. Estás-me a surpreender de sobre maneira gonçalo. Continua o optimo trabalho, dá gosto vir "ler-te". Um abraço daquele q te visita.

Indivíduo disse...

Um bom post, mais do que isso um verdadeiro almanaque de ideias para mudar o país, o texto está completissímo o que me remete para um : "Concordo inteiramente contigo, e nada mais tenho a acrescentar,Parabéns, continua a dar-lhe com fé!" Aparte de tudo isso penso que vossa excelência já sabe a minha opnião acerca deste assunto.

Sem me permite um pequeno conselho, acho que deve cobrar valor acrescentado nas visitas ao CONTRADITÓRIO, com tanta ideia (boas ideias) ainda te arricas a ser o verdadeiro homem que se queixa de plágio.

Abraço;

Anónimo disse...

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