segunda-feira, novembro 28, 2005

25 de Novembro

25 de Abril e 25 de Novembro: o que significaram estas datas? Duas revoluções? Uma revolução a dois tempos? Duas visões distintas da democracia? O início e o fim da revolução?
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A minha visão pessoal do 25 de Novembro põe esta data na mesma ordem de importância do dia em que o regime autoritário e conservadorista de Oliveira Salazar e na altura conduzido por Marcello Caetano caiu por terra, legitimado pela acção e vontade de um povo que aspirava a ideais democráticos; não digo isto de ânimo leve, pois se o 25 de Abril derrubou uma má visão de como e onde deve o poder político ir buscar a sua legitimidade, por outro lado instaurou o caos e a desordem, não só social, mas também política, económica e militar, mergulhando o país numa penosa busca pelo equilíbrio democrático que visões partidárias assimétricas tornavam difícil. Por isso digo, de acordo com aquilo que me é dado saber – já que não presenciei in loco -, que o 25 de Novembro foi a data que salvou Portugal e a democracia de uma guerra civil anunciada e talvez de uma outra ditadura, desta feita da esquerda revolucionária e militarista. Penso que esta data, por controversa e indesejada por uns, tem sido sucessivamente esquecida e posta em segundo plano e nem sequer relembrada nas comemorações do 25 de Abril. O período revolucionário foi conturbado, de resto cometeram-se excessos e actos no mínimo censuráveis, pessoalmente – e só para enumerar alguns- nunca poderia concordar com reformas agrárias, com apelos revolucionários em sectores do MFA e a sua ascênsão política, com o processo de independência das colónias, etc... contudo é natural que o extravasar de emoções sistemáticamente reprimidas a isso conduzisse.
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Na minha óptica o 25 de Novembro foi a consubstanciação e o triunfo daquilo que viria a ser o sonho de uma República Democrática em Portugal; esse triunfo deve-se em grande parte a um óptimo trabalho de bastidores do intitulado “grupo dos nove”, com especial destaque para Ramalho Eanes e Costa Gomes que, pressionando o Conselho da Revolução, conseguem primeiramente retirar os poderes de intervenção para restabelecimento da ordem pública do COPCON(Comando Operacional do Continente) comandado pelo General Otelo Saraiva de Carvalho (próximo dos revolucionários) - neutralizando assim os SUV(Soldados Unidos Vencerão) que, tentavam no seio do MFA e em conjunto com a esquerda revolucionária, instituir um Poder Popular de Base de cariz militarista; numa segunda etapa, procurando apoio nos militares moderados, no PS e PPD e também no PCP – junto do qual obtiveram a confirmação de que este partido não convocaria seus militantes para uma luta de rua - decidem assim, com a estrita colaboração dos Comandos da Amadora, neutralizar os militares revoltosos que ocuparam a Base de Monsanto, tal como o Regimento da Polícia Militar (unidade esta, também próxima da esquerda revolucionária), mais tarde destituem do cargo de Comandante do COPCON Otelo e do cargo de Chefe de Estado Maior do Exército Carlos Fabião, indo ocupar o cargo deste o General Eanes. Com o acima referido consenso partidário, o "grupo dos nove", consegue também controlar e retirar poder às forças conservadoras e neofascistas que vinham crescendo.
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Poderá ter sido conspiração ou empolamento de uma instável situação; poderá ter sido um golpe ou um contra-golpe; a verdade é que esta data marca o início da estabilidade para o processo que culminaria com a aprovação da Constituição da República (2 de Abril de 76), das eleições legislativas para a formação do I Governo Constitucional (25 de Abril de 76) – das quais saiu vitorioso o Dr. Mário Soares e das eleições presidenciais (27 de Junho de 76) – das quais sai vencedor o General Ramalho Eanes.
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Abril não foi só um dia...